“Gostar mais de xadrez que de vencer”

Eu costumo dizer que pra minha família, o xadrez é mais que um jogo, mais que esporte, mais que arte, mais que ciência. É tudo isso junto. E mais: é estilo de vida.

Quando tento responder a idade em que aprendi a mover as peças, sequer tenho certeza. Não me lembro de uma cena assim, meu pai me dizendo “filho, deixa eu te ensinar esse jogo”. 

O que não sai da recordação, sim, é estar rodeado por livros (ótimos livros), jogos de peças (lindos jogos de peças), pai e irmãos jogando. Aliás, a influência foi tão grande que nossos vizinhos de Rua 10, no bairro do São Francisco (São Luís-MA), também aprenderam. Tinha até torneio!

Por falar nisso, foi aos nove anos de idade que passei a treinar mais seriamente. Resultado da abertura da Academia Rafael Leitão, em duas ótimas salas do Ed. Los Angeles, no bairro do Renascença, um dos mais bem localizados da capital maranhense.

Escrevendo tudo isso, percebo como fui uma criança privilegiada.

Bom, com essa estutura e grande prazer em jogar, cheguei a conquistar alguns títulos nacionais e estaduais. Destaco ter sido Campeão Brasileiro de Xadrez Rápido Sub 14, em Belo Horizonte-MG, e Campeão Maranhense Absoluto aos 13 anos de idade.

Corte no tempo

Vou propor um corte pra dizer que não cheguei a imaginar viver do xadrez (ainda que houvesse vontade).

Após algumas aventuras, graduei-me em Comunicação, passei em um Concurso Público Federal e continuei meu contato com o jogo – ministrando aulas e jogando. Nesse intervalo, fui Vice-campeão Brasileiro Universitário e Campeão Brasileiro Amador Sub 2200, tornando-me Mestre Nacional.

Sobre o concurso? Não estava exatamente feliz. 

Que tal entrar em uma variante ousada, sacrificar umas peças e aderir à demissão voluntária?

Surge a Escola Leitão

Foi assim que fundei minha Escola, em 1 de janeiro de 2019. O objetivo: devolver ao universo um pouco do que o xadrez fez e faz por mim.

Portanto, obviamente estamos falando sobre algo muito mais amplo do que simplesmente formar campões.

Assim é que temos diferentes perfis de alunos: os competidores (que já conquistaram títulos internacionais, nacionais e estaduais), os que buscam os benefícios cognitivos e aqueles que puramente admiram o jogo.

Todos são igualmente importantes e fazem parte da mesma engrenagem, ainda que de formas distintas.

Princípios

  • Gostar mais de xadrez do que de vencer
  • Focar mais na evolução duradoura que no resultado imediatista
  • Respeitar plenamente professores, parceiros de treino, adversários, árbitros e todo o entorno
  • Jogar limpo. Sempre! Nada de bater peça, acionar forte o relógio, encarar o adversário, buscar ajuda externa etc
  • Do ponto de vista técnico: valorizar prioritariamente os clássicos, cálculo e estudo dos finais
  • Divertir-se. Não podemos nos esquecer de que jogamos xadrez porque gostamos. Não faz sentido sofrer. Tenhamos uma relação leve com o jogo.

Objetivos de médio a longo prazo

  • Fazer com que a Escola se torne maior que eu.
  • Ampliar a equipe de instrutores (todos absolutamente alinhados com nossos valores)
  • Oferecer aulas nas melhores escolas de São Luís (as que ainda não oferecem o ensino do xadrez)
  • Aumentar a presença digital

Referências

Não podemos projetar o futuro nem fazer por onde no presente sem lembrar quem nos ajudou até aqui.

Nada seria possível sem amor do meu pai pelo jogo, sem a luta da minha mãe para nos ajudar a realizar nossos sonhos e sem a excelência do meu irmão Rafael.

A eles, minha gratidão.

5 conselhos a um jovem enxadrista

Se o futebol é o esporte mais popular do mundo, no lar dos Leitão, em São Luís-MA, o esporte-bretão (também amado por nós) sempre sofreu uma forte concorrência: a do xadrez. Assim foi que o Sr. José ensinou todos os filhos a mover as peças em idade precoce.

Ricardo e Rafael foram seguidos por Nicolau. Nós três chegamos a compor uma equipe, carinhosamente apelidada de Os três porquinhos, para disputar e vencer uma edição dos Jogos Escolares Maranhenses, os JEMs.


O irmão mais velho abandonou os tabuleiros de forma competitiva, o do meio se tornou Grande Mestre e um dos maiores nomes da modalidade na história do Brasil. Eu, o caçula, tornei-me Mestre Nacional, professor e acumulei boa experiência, entre erros e acertos. 

 

E é um pouco dessa história que quero compartilhar com você, jovem enxadrista, para ajudá-lo a bater menos a cabeça na parede do que eu. Lembre-se: o inteligente aprende com os próprios erros, os sábios aprendem com os erros dos outros.

1. Construa Uma Relação Leve Com O Xadrez

O primeiro conselho que eu dou é: se você quer competir, construa uma relação leve com o xadrez. Jogue fundamentalmente porque você gosta, porque você ama. Ganhar, empatar e perder fazem parte do processo. Não deixe o medo da derrota paralisar você. Não empate partidas de forma rápida. Permita-se evoluir ao acumular experiência em diversos tipos de posições.

2. Leveza Com Energia

Ter uma postura leve não significa entrar de forma descompromissada. Encare cada partida com toda energia possível. Esteja disposto a jogar longas batalhas, mesmo que durem 100 lances ou mais. E não se preocupe em querer alcançar alguma vantagem de forma rápida. Era de costume eu me angustiar quando isso não acontecia e sobrevoarem minha mente pensamentos do tipo: “ah meu Deus! A partida tá simplificando muito, não tô conseguindo nada!”. Hoje sei que é possível jogar para ganhar quase todas as posições – e que vencer em meia ou em cinco horas rende o mesmo ponto.

3. Fuja Dos Falsos Atalhos

Não adote subvariantes e “esqueminhas” como opção principal do seu repertório. Se o seu objetivo é jogar cada dia melhor, então será necessário jogar linhas clássicas desde o início de sua jornada como enxadrista.

4. Cuidado Com A Tecnologia

Os softwares e clubes onlines são fundamentais, mas não despreze a importância dos tabuleiros físicos e do velho amigo da humanidade, o livro! E ressalto: quando for jogar suas partidinhas pela internet, aproveite a sessão para melhorar. Analise os jogos e faça um diagnóstico dos erros mais frequentes para atacá-los no treinamento.

5. Treine Todos Os Dias

Estabeleça como meta treinar todos os dias, mesmo que seja por meia hora (para responder exercícios de tática, por exemplo). Acredite, é a constância, a consistência que vão fazer você  jogar melhor e ter bons resultados.

Eu garanto: se você adotar essa postura, montar um repertório básico de aberturas, analisar partidas-modelo e resolver exercícios de táticas em todas as sessões de treino, os primeiros pontos virão matematicamente!